Desespero – H.P. Lovecraft

Tradução de Renato Suttana

Sobre os charcos noturnos ululando,

entre os negros ciprestes suspirando,

nos vendavais da noite remoinhando,

demoníacas formas noturnais;

contra os galhos desnudos se ferindo,

junto aos poços estanques estrugindo,

nas penhas, sobre o mar, repercutindo,

do desespero as sombras infernais.

Certa vez (ainda o vejo em pensamento),

antes que se estendesse um céu cinzento

sobre o meu juvenil atrevimento,

houve tal coisa como ser feliz;

o céu que agora é negro refulgia,

límpido e safirino resplendia,

mas logo vi que em sonhos é que eu via

tudo isso – no fatal torpor de Dis.

Mas o rio do tempo, a transcorrer,

traz o tormento do desconhecer,

sempre fugindo, em seu cego correr

em direção àquele prado arcano;

enquanto o viajante enxerga aflito

do fogo-fátuo o fulgor esquisito

e do petrel maligno escuta o grito,

a vogar impotente para o oceano.

Asas malignas pelo éter batendo,

abutres que o espírito vão roendo,

vultos negros que passam, percorrendo

eternamente um céu de escuridão;

contornos espectrais de ida ventura,

cruéis demônios da aflição futura

se mesclam numa nuvem de loucura

e fazem da alma a sua habitação.

Assim os vivos, sós e soluçantes,

nos amplexos da angústia palpitantes,

são vítimas das fúrias repugnantes,

que à noite e ao dia vêm a paz roubar;

mas para além da dor e do lamento,

de uma vida de tédio e de tormento,

há de coroar o doce Esquecimento

tantos anos de inútil procurar.

∗ DIS segundo os “Mitos de Cthulhu” era uma cidade invisível. Foi mencionada algumas vezes por HPL e por Clark
Ashton Smith e outros do círculo.

Pobre Yorick

 

(…)
HAMLET — Quanto tempo pode uma pessoa ficar na terra, sem apodrecer?

PRIMEIRO COVEIRO — A la fé, se já não começara a apodrecer em vida, que hoje em dia há muitos bexiguentos que mal esperam pela inumação, poderá durar-vos coisa de oito anos ou nove; um curtidor demora nove anos.

HAMLET — E por que ele mais tempo do que os outros?

PRIMEIRO COVEIRO — Ora, senhor, é que a profissão lhe endurece a pele, tornando-a impermeável à água, que é o mais ativo destruidor do bandido do cadáver. Temos aqui outro crânio, que vos ficou na terra seus vinte e três anos.

HAMLET — De quem era este?

PRIMEIRO COVEIRO — Do mais extravagante louco que já se viu. Quem pensais que ele fosse?

HAMLET — Não posso sabê-lo.

PRIMEIRO COVEIRO — Para o diabo com sua loucura! Certa vez atirou-me à cabeça uma botija de vinho do Reno. Esse crânio aí, senhor, esse crânio ai, senhor, era o crânio de Yorick, o bobo do rei.

HAMLET — Este?

PRIMEIRO COVEIRO — Precisamente.

HAMLET — Deixa-me vê-lo. (Toma o crânio) Pobre Yorick! Conheci-o, Horácio; um sujeito de chistes inesgotáveis e de uma fantasia soberba. Carregou-me muitas vezes às costas. E agora, como me atemoriza a imaginação! Sinto engulhos. Era aqui que se encontravam as faces que eu beijei não sei quantas vezes. Onde estão agora os chistes, as cabriolas, as canções, os rasgos de alegria que faziam explodir a mesa em gargalhadas? Não sobrou uma ao menos, para rir de tua própria careta? Tudo descarnado! Vai agora aos aposentos da senhora e dize-lhe que embora se retoque com uma camada de um dedo de espessura, algum dia ficará deste jeito. Faze-a rir com semelhante pilhéria. Dize-me uma coisa, Horácio, por obséquio.

HORÁCIO — Que é, príncipe?

HAMLET — Acreditas que Alexandre, depois de enterrado, tivesse este mesmo aspecto?

HORÁCIO — Igual, igual, príncipe.

HAMLET — E este cheiro? Puá! (Joga o crânio)

HORÁCIO — O mesmo, príncipe.

HAMLET — A que usos ínfimos temos de prestar-nos, Horácio. Por que não acompanhar a imaginação as nobres cinzas de Alexandre, até encontrá-las servindo para tapar um barril?

HORÁCIO — É ir muito longe, considerar as coisas por esse modo.

HAMLET — De forma alguma. Acompanhemo-las com bastante modéstia, deixando-nos guiar apenas pela verossimilhança. Mais ou menos deste jeito: Alexandre morreu; Alexandre foi enterrado; Alexandre tornou-se pó. O pó é terra; da terra faz-se argila; por que, então, não se poderá tapar um barril de cerveja com a argila em que ele se converteu? O grande César morto e em pó tornado, pode a fenda vedar ao vento irado. O pó que o mundo inteiro trouxe atento, ora o muro protege contra o vento.(…)

Uma análise marxista de canções infantis manipuladas pela burguesia

Vanguarda Popular

O Sapo (Autor: Camarada Ðeco)


O sapo não lava o pé.

(A miséria que aflige o submundo capitalista impede a higiene animal deste mamífero)

Não lava porque não quer.

(Neoliberais porco-burgueses tentam transparecer que o caso se trata de uma escolha livre e individual, quando sabemos que o Sapo é historicamente vítima de um modelo concentrador de higiene)

Ele mora lá na lagoa

(Uma mentira. O Companheiro Sapo a muito tempo luta pela causa nas fileiras do Movimento dos Sem Lagoa. Os neoliberais acham que uma poça de água é um teto!)

E não lava o pé

(a miséria que aflige o submundo capitalista impede a higiene animal deste mamífero)

Por que não quer

(Ele não tem escolha, é obrigado pelo atual modelo a ficar privado desta higiene. Trata-se da prova cabal do fracasso capitalista na lagoa)

MAS QUE CHULÉ

(Alem de ser historicamente explorado, agora o companheiro mamífero é vitima do preconceito social, que condena  a marginalidade os companheiros com chulé, historicamente explorados pelos porcos sem chulé)

SAPOS DESTE MUNDO,

UNI-VOS!

 

O Cravo e a Rosa (Autor: Camarada Sir Niven)

O cravo brigou com a rosa

(Machismo, manifestação porco-chauvinista contra as companheiras aguerridas)

Debaixo de uma sacada

(Nota-se que tanto o cravo quanto a rosa, nossos companheiros de luta, encontravam-se inebriados pela opulência exposta pela classe alta (apenas porcos capitalistas e burgueses habitam casas com sacadas, claramente projetadas por algum arquiteto e não construídas em esquema de mutirão com a ajuda do Estado))

O cravo saiu ferido

(Uma clara referência de que o companheiro cravo foi agredido, provavelmente porque a companheira rosa foi incitada por um personagem feminino de alguma novela transmitida pela Rede Globo, ou pior, algum filme de Hollywood, aquele antro do capitalismo selvagem)

E a rosa despedaçada.

(Mais uma vez, a rosa foi explorada e dizimada pelo companheiro cravo, que muito provavelmente encontrava-se drogado para atentar com tanta vileza contra a integridade física de sua parceira. O companheiro cravo, proletário, com certeza foi apresentado às drogas pelo seu patrão (todos sabem que são os ricos os maiores consumidores de drogas), maltratando sua companheira, apenas para enriquecer o esquema de tráfico de entorpecentes. Os chefes do tráfico, homens ricos e poderosos que frequentam as altas rodas da sociedade, usam do poder das drogas para se apoderarem dos corações e mentes da classe trabalhadora com o único intuito de dominar as classes menos favorecidas e torná-las escravas da ambição desenfreada, mola propulsora do capitalismo)

O Corvo – Edgar Allan Poe

O Corvo – De Edgar Allan Poe – Tradução de Machado de Assis

Em certo dia, à hora, à hora
Da meia-noite que apavora,
Eu caindo de sono e exausto de fadiga,
Ao pé de muita lauda antiga,
De uma velha doutrina, agora morta,
Ia pensando, quando ouvi à porta
Do meu quarto um soar devagarinho
E disse estas palavras tais:
“É alguém que me bate à porta de mansinho;
Há de ser isso e nada mais.”

Ah! bem me lembro! bem me lembro!
Era no glacial dezembro;
Cada brasa do lar sobre o chão refletia
A sua última agonia.
Eu, ansioso pelo sol, buscava
Sacar daqueles livros que estudava
Repouso (em vão!) à dor esmagadora
Destas saudades imortais
Pela que ora nos céus anjos chamam Lenora,
E que ninguém chamará jamais.

E o rumor triste, vago, brando,
Das cortinas ia acordando
Dentro em meu coração um rumor não sabido
Nunca por ele padecido.
Enfim, por aplacá-lo aqui no peito,
Levantei-me de pronto e: “Com efeito
(Disse) é visita amiga e retardada
Que bate a estas horas tais.
É visita que pede à minha porta entrada:
Há de ser isso e nada mais.”

Minhalma então sentiu-se forte;
Não mais vacilo e desta sorte
Falo: “Imploro de vós – ou senhor ou senhora –
Me desculpeis tanta demora.
Mas como eu, precisando de descanso,
Já cochilava, e tão de manso e manso
Batestes, não fui logo prestemente,
Certificar-me que aí estais.”
Disse: a porta escancaro, acho a noite somente,
Somente a noite, e nada mais.

Com longo olhar escruto a sombra,
Que me amedronta, que me assombra,
E sonho o que nenhum mortal há já sonhado,
Mas o silêncio amplo e calado,
Calado fica; a quietação quieta:
Só tu, palavra única e dileta,
Lenora, tu como um suspiro escasso,
Da minha triste boca sais;
E o eco, que te ouviu, murmurou-te no espaço;
Foi isso apenas, nada mais.

Entro co’a alma incendiada.
Logo depois outra pancada
Soa um pouco mais tarde; eu, voltando-me a ela:
“Seguramente, há na janela
Alguma coisa que sussurra. Abramos.
Ela, fora o temor, eia, vejamos
A explicação do caso misterioso
Dessas duas pancadas tais.
Devolvamos a paz ao coração medroso.
Obra do vento e nada mais.”

Abro a janela e, de repente,
Vejo tumultuosamente
Um nobre Corvo entrar, digno de antigos dias.
Não despendeu em cortesias
Um minuto, um instante. Tinha o aspecto
De um lord ou de uma lady. E pronto e reto
Movendo no ar as suas negras alas.
Acima voa dos portais,
Trepa, no alto da porta, em um busto de Palas;
Trepado fica, e nada mais.

Diante da ave feia e escura,
Naquela rígida postura,
Com o gesto severo – o triste pensamento
Sorriu-me ali por um momento,
E eu disse: “Ó tu que das noturnas plagas
Vens, embora a cabeça nua tragas,
Sem topete, não és ave medrosa,
Dize os teus nomes senhoriais:
Como te chamas tu na grande noite umbrosa?”
E o Corvo disse: “Nunca mais.”

Vendo que o pássaro entendia
A pergunta que lhe eu fazia,
Fico atônito, embora a resposta que dera
Dificilmente lha entendera.
Na verdade, jamais homem há visto
Coisa na terra semelhante a isto:
Uma ave negra, friamente posta,
Num busto, acima dos portais,
Ouvir uma pergunta e dizer em resposta
Que este é o seu nome: “Nunca mais.”

No entanto, o Corvo solitário
Não teve outro vocabulário,
Como se essa palavra escassa que ali disse
Toda sua alma resumisse.
Nenhuma outra proferiu, nenhuma,
Não chegou a mexer uma só pluma,
Até que eu murmurei: “Perdi outrora
Tantos amigos tão leais!
Perderei também este em regressando a aurora.”
E o Corvo disse: “Nunca mais.”

Estremeço. A resposta ouvida
É tão exata! é tão cabida!
“Certamente, digo eu, essa é toda a ciência
Que ele trouxe da convivência
De algum mestre infeliz e acabrunhado
Que o implacável destino há castigado
Tão tenaz, tão sem pausa, nem fadiga,
Que dos seus cantos usuais
Só lhe ficou, na amarga e última cantiga,
Esse estribilho: “Nunca mais.”

Segunda vez, nesse momento,
Sorriu-me o triste pensamento;
Vou sentar-me defronte ao Corvo magro e rudo;
E mergulhando no veludo
Da poltrona que eu mesmo ali trouxera
Achar procuro a lúgubre quimera.
A alma, o sentido, o pávido segredo
Daquelas sílabas fatais,
Entender o que quis dizer a ave do medo
Grasnando a frase: “Nunca mais.”

Assim, posto, devaneando,
Meditando, conjecturando,
Não lhe falava mais; mas se lhe não falava,
Sentia o olhar que me abrasava,
Conjecturando fui, tranqüilo, a gosto,
Com a cabeça no macio encosto,
Onde os raios da lâmpada caiam,
Onde as tranças angelicais
De outra cabeça outrora ali se desparziam,
E agora não se esparzem mais.

Supus então que o ar, mais denso,
Todo se enchia de um incenso.
Obra de serafins que, pelo chão roçando
Do quarto, estavam meneando
Um ligeiro turíbulo invisível;
E eu exclamei então: “Um Deus sensível
Manda repouso à dor que te devora
Destas saudades imortais.
Eia, esquece, eia, olvida essa extinta Lenora.”
E o Corvo disse: “Nunca mais.”

“Profeta, ou o que quer que sejas!
Ave ou demônio que negrejas!
Profeta sempre, escuta: Ou venhas tu do inferno
Onde reside o mal eterno,
Ou simplesmente náufrago escapado
Venhas do temporal que te há lançado
Nesta casa onde o Horror, o Horror profundo
Tem os seus lares triunfais,
Dize-me: “Existe acaso um bálsamo no mundo?”
E o Corvo disse: “Nunca mais.”

“Profeta, ou o que quer que sejas!
Ave ou demônio que negrejas!
Profeta sempre, escuta, atende, escuta, atende!
Por esse céu que além se estende,
Pelo Deus que ambos adoramos, fala,
Dize a esta alma se é dado inda escutá-la
No Éden celeste a virgem que ela chora
Nestes retiros sepulcrais.
Essa que ora nos céus anjos chamam Lenora!”
E o Corvo disse: “Nunca mais.”

“Ave ou demônio que negrejas!
Profeta, ou o que quer que sejas!
Cessa, ai, cessa!, clamei, levantando-me, cessa!
Regressa ao temporal, regressa
À tua noite, deixa-me comigo.
Vai-te, não fica no meu casto abrigo
Pluma que lembre essa mentira tua,
Tira-me ao peito essas fatais
Garras que abrindo vão a minha dor já crua.”
E o Corvo disse: “Nunca mais.”

E o Corvo aí fica; ei-lo trepado
No branco mármore lavrado
Da antiga Palas; ei-lo imutável, ferrenho.
Parece, ao ver-lhe o duro cenho,
Um demônio sonhando. A luz caída
Do lampião sobre a ave aborrecida
No chão espraia a triste sombra; e fora
Daquelas linhas funerais
Que flutuam no chão, a minha alma que chora
Não sai mais, nunca, nunca mais!

Livro de Edgar Allan Poe é vendido por US$662.500

Reuters

A primeira edição de um livro de poemas escrito em 1827 por Edgar Allan Poe foi vendida por 662.500 dólares nesta sexta-feira, estabelecendo um recorde para um livro de poesia do século 19, disse uma porta-voz da Christie’s.

“Tamerlane and Other Poems”, o primeiro livro de Poe, foi vendido para um colecionador norte-americano. Há apenas uma dezena de cópias da primeira edição do livro, disse Jessie Edelman da Christie’s.

Poe, conhecido por seus poemas sobre o macabro, começou sua carreira aos 18 anos ao imprimir apenas 50 cópias do seu primeiro livro de poesia. Ele não pôs seu nome nesses livros, assinando-os apenas como “um bostoniano”.

Poe mudou-se para Boston, cidade onde nasceu, depois de sair da casa dos pais em Richmond, na Virgínia.

“Tamerlane and Other Poems” foi inspirado no trabalho do poeta britânico Lord Byron, e o poema do título fala sobre um conquistador que lamenta a morte de seu primeiro amor.

O livro saiu da biblioteca de William E. Self, produtor de cinema e televisão.